Em setembro de 2011 uma produtora da TV Cidade e amiga, me convidou para atuar como tradutor em uma reportagem. O assunto, era a questão trabalhista dos marinheiros búlgaros do Navio Mercante (NM) Seawind. Essa matéria foi exibida em outubro do mesmo ano.
O Seawind era um navio cargueiro que navegava sob bandeira panamenha, apesar de pertencer a uma companhia de navegação búlgara assim como também era sua tripulação, e uma história é um tanto curiosa.
Seus marinheiros estavam com salários atrasados à meses quando deixaram o porto de Vitória-ES, com o navio carregado com mármore. Seu destino, um porto na Itália.
Estavam quase sem suprimentos quando fizeram escala em Salvador para reabastecer. Devido à longa espera pelo reabastecimento, crustáceos cresceram nas grades das “caixas de mar” que puxam água para refrigeração dos motores, e começaram os problemas.
Em alto mar, as máquinas pouco refrigeradas esquentaram e quebraram várias vezes, prolongando a viagem que deveriam durar poucos dias. Após quase duas semanas em mar aberto e com as máquinas avariadas, sem comida e quase sem água potável, o comandante Nicolay Simeonov decidiu fundear em Fortaleza-CE.
Seu empregador ofereceu a passagem de volta pra casa, mas deixando o navio, perderiam a garantia de pagamento de suas dívidas trabalhistas. No entanto, quatro tripulantes desesperados aceitaram as passagens e voltaram para casa imediatamente. Outros três foram mandados depois, devido às condições médicas.
Os outros seis que ficaram, permaneceram três meses no navio até que a justiça trabalhista brasileira o retivesse como garantia do pagamento de seus salários. Nesse tempo, a escassez de comida os obrigou a pescar e sua condição de vida era precária. Após esse período de agonia dos marinheiros, o sindicato local assumiu o controle do navio para que os fadigados tripulantes pudessem voltar para suas casas.
Em junho de 2012, quase um ano após o início dos problemas, os últimos búlgaros deixarem o navio e o Seawind começou a afundar lentamente.
Minha teoria é que crustáceos e a corrosão tenham provocado infiltrações, possivelmente no sistema de refrigeração que já vinha dando problemas. Mas são apenas especulações, o que se sabe, é que a popa do navio começou a afundar vagarosamente e poucos dias depois, em 29 de junho o navio afundou completamente. Ninguém morreu ou ficou ferido, e o dano ambiental foi mínimo, até porque o navio estava quase “na reserva”.
Um fato curioso, é que iniciada a operação de contenção de fluidos nocivos ao meio ambiente, os mergulhadores contratados não conseguiam encontrar o vazamento. Chamaram um conhecido caçador subaquáticos da região, o Régis “Doido” que localizou o vazamento e o tampou com uma enorme rolha de madeira !
Durante a operação de contenção, um corte mal planejado na superestrutura localizada na popa, provavelmente provocou o seu afundamento. Poucos foram aqueles que notaram, mas poucos meses depois de afundar a cabine de comando que ficava acima da superfície arriou para bombordo, desaparecendo da vista da maioria.
Poucos são aqueles mergulhadores de naufrágio que tem o privilégio de caminhar sobre o convés de um navio antes de ele afundar e depois mergulhar onde um dia você caminhou…